Quanto mais velho eu fico, mais chego à conclusão de que os desafios
fazem parte da vida. É difícil imaginar nosso progresso pessoal sem os testes
que nos ajudam a sermos melhores, mais fortes, mais pacientes. Creio que um
lugar onde isso acontece com mais frequência seja em nosso lar. Nossa família é
uma bênção em nossa vida, mas isso não significa que não trarão alguma dor de
cabeça. Na verdade, são nessas fases difíceis em nossos círculos familiares que
temos a oportunidade de crescer com mais intensidade. O Élder Oaks disse em uma
de suas mensagens: “A exaltação é uma experiência familiar eterna e nossas
experiências familiares terrenas são a melhor maneira de nos preparamos para
ela” (“O Desafio de Tornar-se”, A Liahona, janeiro de 2001, p. 41).
Com isso em mente, vale a pena pensarmos: “O quanto estou disposto a sacrificar
para ter uma família eterna?” “Quantos desafios estou disposto a passar para
merecer essa bênção?” Com certeza ela não virá sem um preço. Quanto vale uma
família eterna? Creio que existem diferentes “preços a serem pagos” por esta
bênção. Gostaria de comentar três situações que percebo serem as mais comuns:
1. Para algumas
irmãs, talvez o preço a ser pago seja não ter uma família neste lado do véu.
Encontro muitas irmãs, mulheres eleitas, que não se casaram e estão à espera de
um “príncipe encantado”. São moças fiéis e seriam excelentes esposas e mães.
Assim como elas, existem outras que se casaram com alguém que parecia fiel, mas
que acabou não honrando os convênios do templo. Sem dúvida elas merecem ter uma
família eterna e terão, se permanecerem fiéis ao evangelho até o fim. O Élder
Scott disse uma vez: “As irmãs fiéis que não conseguirem formar uma família
nesta vida, sem dúvida terão essa oportunidade do outro lado do véu” (Seminário
de Presidentes de Missão, 1998). Que promessa reconfortante! Ao mesmo tempo,
são exigidos dessas irmãs alguns sacrifícios que só elas sabem quão difíceis
eles são. Será que vale a pena esperar? Não seria mais fácil somente ter uma
família aqui, sem os convênios do templo, mas pelo menos ter uma família? É um
grande risco. Algumas irmãs trilharam esse caminho e não voltaram. Ganharam uma
família nesta vida e a perderam para a eternidade. Essa é uma decisão que deve
ser muito bem avaliada. Ficará mais fácil decidir se tivermos em nossa mente
uma visão eterna de suas consequências. Para casarmos com a pessoa certa,
precisamos ter a coragem de não casar com a pessoa errada. Quanto vale uma
família eterna?
2. Para alguns
casais, talvez o preço a ser pago seja o arrependimento e o perdão.
Não é incomum encontrarmos casais com dificuldades em seu casamento. Afinal de
contas, são duas vidas que precisam ser ajustadas a uma nova realidade. Creio
que não existem casais que, em algum momento ou outro, não tenham passado por
situações que exigiram algum sacrifício. De um dos lados ou dos dois ao mesmo
tempo. Uma coisa são as dificuldades com os mandamentos, outra são as
dificuldades no relacionamento. A primeira situação sem dúvida é mais grave,
enquanto a segunda, apesar de difícil, provavelmente não envolva quebra de
convênios.
O que fazer então para salvar essa família eterna em potencial? No documento A Família: Proclamação ao
Mundo, encontramos: “O casamento e a família
bem-sucedidos são estabelecidos e mantidos sob os princípios da fé, da oração,
do arrependimento, do perdão (…)”. O Presidente Kimball costumava dizer que
essas duas palavras, arrependimento e perdão, salvariam muitos casamentos. Para
tudo melhorar, provavelmente o marido ou a esposa, ou os dois, precisam se
arrepender de algo e/ou perdoar algo que o outro tenha feito. Quando isso é
aplicado, casamentos são mantidos e relacionamentos mudados. É fácil? Não,
certamente não é, mas, quanto vale uma família eterna?
3. Para alguns
pais, talvez o preço a ser pago seja a perseverança e o amor incondicional.
“Filho dura!” Esta é uma expressão usada pelo Élder Mazzagardi algumas vezes,
em tom de brincadeira, lembrando-nos de que nossos filhos, por mais velhos que
sejam, por mais experientes na vida ou no evangelho, ainda nos trarão
preocupações. Alguns mais, outros menos, mas sem dúvidas, sempre estaremos
atentos aos desafios que estarão passando na vida. Talvez o mais doloroso seja
vê-los se afastando da verdade e correndo o risco de perderem sua exaltação.
Como então minimizar essa possibilidade ou revertê-la, se isso vier a
acontecer?
Lembro-me das palavras do Presidente Faust em um de seus últimos treinamentos
às Autoridades Gerais. Ele compartilhou conosco o que tinha mantido sua família
ativa por muitas gerações. Ele citou: noites familiares, orações familiares,
estudo das escrituras em família, frequência ao templo e dízimo. Cada um desses
itens, por sua profundidade, poderiam ser temas de outras mensagens, mas neste
artigo fica apenas o convite para avaliação. Onde estamos bem e onde poderíamos
melhorar como família? Não são tradições fáceis de serem implantadas.
Principalmente para aqueles que são a primeira geração na Igreja, mas alguém
precisa começar esse legado. Vamos deixar esse desafio para os nossos filhos ou
netos? Sem dúvidas exigem disciplina e perseverança, mas quanto vale uma
família eterna?
Aos que já têm alguns de seus filhos distantes da barra de ferro, vale
lembrar-se de Enos ou Alma, o filho. Apesar de afastados da verdade, em algum momento
de sua vida, voltaram. Como pai, sinto-me muito fortalecido com a experiência
de Alma, o filho, que ouviu do anjo as palavras: “Eis que o Senhor ouviu as
orações de seu povo e também as orações de seu servo Alma, que é teu pai;
porque ele tem orado com muita fé a teu respeito, para que tu sejas levado a
conhecer a verdade; portanto vim com o propósito de convencer-te do poder e
autoridade de Deus, para que as orações de seus servos possam ser respondidas
de acordo com sua fé” (Mosias 27:14; grifo do autor).
Não devemos nunca desistir, nunca. Mas não podemos nos esquecer das palavras do
Élder Oaks: “Parte dessa visão é perceber que Deus deu aos Seus filhos o poder
de escolha. Vai chegar a hora em que eles ficarão mais velhos e terão que fazer
escolhas e ser responsáveis. É uma pena quando os pais carregam um fardo de
culpa por toda decisão que os filhos tomam. Nós nunca, nunca desistimos. Somos
responsáveis por ensinar os princípios corretos e fazer tudo o que pudermos com
amor e persuasão. (…) Mas, em última análise, digo para os pais e avós adultos,
continuem orando, continuem tentando, mas deixem de lado esse grande fardo de
culpa. As pessoas que têm poder de escolha vão fazer escolhas erradas. Às vezes
a única forma de certas pessoas aprenderem é fazendo uma escolha errada e vendo
suas consequências. Depois, confiamos no incrível poder da Expiação do nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo. Quase não existem pecados que podemos cometer
na mortalidade que não possam ser perdoados, de acordo com os princípios
corretos, pelo poder da Expiação do Senhor” (Reunião Mundial de Treinamento de Liderança, “Criar uma Posteridade Justa”, 9 de fevereiro de 2008, p. 21).
Quanto vale uma família eterna? Creio que nosso entendimento da grandeza dessa
bênção ainda é limitado. Um dia, se formos fortes e fiéis em nossa jornada,
estaremos como famílias na eternidade e veremos que todo o sacrifício valeu a
pena. “Nenhuma cadeira vazia no Reino Celestial!” Esse é um sonho possível, mas
tem o seu preço.
Élder Carlos A. Godoy
Dos Setenta